A capital moçambicana está ainda transformada numa cidade em estado de sítio, de onde só se entra ou sai a pé, com barricadas de fogo em algumas das artérias da cidade e o acesso ao aeroporto a fazer-se apenas com escolta militar.
Por Pedro Figueiredo da Agência Lusa
A avenida Acordos de Lusaka, a principal artéria que conduz ao aeroporto, está transformada num cenário de batalha campal entre polícias e manifestantes, que conseguiram cortar este acesso da cidade com um carro e vários contentores de lixo a arder.
No local, milhares de pessoas percorrem os passeios procurando regressar a casa, correndo para as ruas estreitas dos bairros vizinhos sempre que se ouvem disparos da polícia - a que os manifestantes respondem arremessando pedras.
Nesta avenida, que é uma das "linhas da frente" da confrontação entre as forças policiais e os manifestantes, é ainda possível ver carrinhas todo-o-terreno repletas de militares empunhando metralhadoras, que servem de escolta aos carros prioritários que seguem para o aeroporto.
Por todo o lado, nos pontos mais altos, centenas de populares observam de longe a confrontação, enquanto nos semáforos, atrás da barreira policial (muitos agentes estão à paisana) dezenas de carros esperam que uma acalmia da situação lhes permita sair da cidade - quem se aventura numa travessia solitária é sumariamente apedrejado pelos manifestantes, caso de um carro de reportagem da principal televisão privada em Moçambique, a STV.
A "linha da frente", montada na avenida que ostenta o nome dos acordos que conduziram à independência de Moçambique, repete-se um pouco por toda a cidade, mas agora apenas nas principais saídas. Mas no centro de Maputo estão ainda as marcas da violência que se espalhou um pouco por toda a cidade, como resposta ao aumento do preço dos transportes semi-colectivos de passageiros, o meio de transporte utilizado pela maioria dos habitantes da capital moçambicana e arredores.
Contentores de entulho virados, montes fumegantes de pneus ardidos, pedras espalhadas por todo o lado, seguranças empunhando armas automáticas em alerta, carros de organizações internacionais circulando com a respectiva bandeira desfraldada de fora da janela, carros a fazerem inversão de marcha e a circularem em quatro piscas sempre que pressentem que uma rua esteja bloqueada mais à frente: eis os sinais visíveis dos tumultos.
Ao contrário de todos os outros dias, hoje não existem "chapas" (as pequenas carrinhas de passageiros que asseguram o transporte na cidade) em Maputo, os carros a circular são muito poucos e é possível ver milhares de pessoas a percorrerem a pé a cidade, resignadas à perspectiva de não terem transporte para sair da cidade.
De resto, Maputo foi hoje uma cidade paralisada, já que a ausência de transportes impediu muitos milhares de trabalhadores residentes nos bairros periféricos de chegarem à cidade. Os bancos, hipermercados, escolas, lojas e outros estabelecimentos comerciais permaneceram encerrados ao longo de todo o dia, depois de manifestantes terem partido montras e vandalizado alguns deles.
A noite, que entretanto caiu em Maputo, trouxe uma relativa acalmia da situação, esperando-se que as negociações entretanto encetadas entre o Governo e os transportadores consiga trazer a paz às ruas da capital moçambicana.
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