sábado, 9 de fevereiro de 2008

Angola-Querem decapital a Imprensa livre

Os espadachins do regime, quiçá tendo em atenção as eleições que serão realizadas em Setembro próximo, já começaram a desembainhar as suas espadas e a esgrimi-las contra (tudo e) todos aqueles que lutam para manter acesa a chama da liberdade e consolidar a democracia (in)existente na Pátria de Agostinho Neto.
Enquanto uns lutam (são muito poucos) para manter acesa a chama da liberdade e consolidar a democracia (in)existente em Angola, outros (não são poucos) esfolam mãos e joelhos para apagar a chama da liberdade, desconstruir a democracia (in)existente e pensar demorada e denodadamente como estragar a vida dos amantes das Liberdades de Expressão e de Imprensa.
A atestar isso está a recente prisão ilegal de Graça Campos, jornalista e director do Semanário Angolense, em decorrência de um processo-crime instaurado por um papalvo que se deixou usar pelo regime, e a chamada, quinta-feira última, de William Tonet, jornalista e director do bissemanário Folha 8, ao quinto andar da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), em virtude de uma queixa-crime apresentada por Hélder Vieira Dias Júnior (Kopelipa), futuro ex-chefe da Casa Militar da Presidência da República, José Maria, chefe da Contra Inteligência Militar, e Hélder Pita Gróz, director da Policia Judiciária Militar.
Fiquei a saber, por exemplo, que o hebdomadário “O Independente”, que já tinha sido “morto” e “enterrado”, acabou de “ressuscitar”. O jornal ressurgiu para fazer acusações graves a William Tonet. Diz o jornal que Tonet acaparou-se de quatro milhões de dólares que o Comando Geral da Polícia havia disponibilizado para que a empresa do jornalista construísse uns tantos jangos na ilha do Mussulo. Escreve o semanário que Tonet tem usado tal dinheiro para tratar-se, no Brasil, dos vírus do VIH/Sida, de que é portador há mais de cinco anos.
Vamos por partes. Hélder Vieira Dias (Kopelipa), José Maria e Hélder Pita Gróz estão no seu Direito de processar William Tonet, mas tenho a certeza absoluta que esta não era (é) a vontade destes generais. A verdadeira vontade destes homens de mão de José Eduardo dos Santos (estão a semear vento, meus senhores...) é a de enfiar um tiro bem rosto do director do Folha8. E porquê que eles fariam isso? Porque sei que Kopelipa, Zé Maria e Pita Gróz são homens que já mostraram, por palavras, actos e omissões, uma manifesta e inapta capacidade para lidar com valores como Democracia, Tolerância Política, Liberdade de Imprensa, de Expressão e são contra o exercício aberto e plural da cidadania.
Sei que a estes três homens apetece dar um tiro a William Tonet por ele ser um jornalista que chama as coisas pelos próprios nomes e enfrenta de peito aberto os maus ventos e as péssimas marés que vão tendo lugar em Angola. Apetece-lhes tirar a vida do director do Folha 8 pelo facto de William Tonet não ser um homem de meter o rabinho entre as pernas quando sopra uma brisa ou quando as ondas estão mais altas. Mesmo quando ameaçado física, moral e mortalmente como agora.

Ataques a William Tonet revelam toda podridão do mau Estado angolano

Como contra factos não há argumentos, as rajadas disparadas contra do director do jornal Folha 8 saíram pela culatra. O Independente, um jornal estrategicamente renascido das cinzas em Angola, ligado a Fernando Manuel, outrora membro da DISA (a polícia do Estado), hoje SINFO e ex-vice-ministro da Segurança do Estado, reaparece como um instrumento de desacreditação da imprensa privada que se atreva a não tocar pelo mesmo diapasão que o do regime. Ou não estivessem as eleições aí ao dobrar da esquina
Por Orlando Castro (*)
A prova-lo é a notícia da sua primeira edição, depois de ressurgido, sobre o director do jornal angolano, este sim independente, Folha 8. A notícia tem como título “William Tonet envolvido em burlas, corrupção e mais… Folha 8 lança-se ao cabritismo a troco de silenciar intrigas e difamação.” A notícia com a qual se abre o referido jornal, mais do que informar é um ataque pernicioso e pessoal ao director e proprietário de um dos jornais de referência da imprensa independente angolana. Talvez o que mais se insurge contra o regime antidemocrático e absolutista do presidente José Eduardo dos Santos.
William Tonet é acusado de, no desrespeito da deontologia profissional, se fazer passar por mero advogado no julgamento do General Miala, considerando-o “um bajulador de consciências a troco de alguns dólares que visavam tão-somente a absolvição dos réus e comprometer a justiça em Angola”. Todavia, a absolvição de um réu cuja inocência é manifesta deveria orgulhar a magistratura de Angola e não a comprometer.
Num Estado de Direito, mais vale uma justiça que tarda do que uma que não aparece. De seguida, o mesmo jornal refere que o director do jornal Folha 8 terá burlado o então comandante-geral da Polícia Nacional, Alfredo Ekuikui, tendo recebido deste importantes somas de dinheiro para executar obras no centro de órfãos no Nzonge (localidade do Guenge/Kikuxe), sem que cumprisse “a troco de silenciar intrigas e difamação que envolviam o próprio comandante-geral na época.
O mesmo comandante teria oferecido, ainda, “uma viatura de Toyota Land-Cruiser VX GXR, que se destinava a um dos seus comandantes provinciais, cujo nome a nossa fonte não revelou”. O mesmo jornal continua, dizendo que na mesma altura, William Tonet “conseguiu manipular o comandante, ludibriando tudo e todos, e foi-lhe entregue, de igual modo, um valor avaliado em 4.000.000.00 de dólares, que se destinava a construção da pousada da Polícia Nacional na localidade do Mussulo, município da Samba”. No entanto, não apresenta nenhuma prova, nem documental nem de qualquer outra natureza, muito menos é conhecida qualquer queixa apresentada por incumprimento contratual ou burla.
O jornal Independente vai mais longe ao afirmar que “com esse dinheiro, segundo pessoas próximas do visado, o mesmo efectuou uma viagem à República Federativa do Brasil, com vista a prosseguir com o tratamento do VIH/SIDA de que padece há mais de cinco anos e perspectiva a implantação naquele país da América do Sul, a criação de um jornal on-line que tem como principal objectivo denegrir a postura e os esforços do executivo angolano, com maior incidência no período eleitoral aprazado para a primeira semana do mês de Setembro de 2008”. Para cumprir com o macabro desiderato, William Tonet, “conta com uma equipa de jornalistas nacionais e estrangeiros que no presente momento têm redigido os principais artigos detractores à política governamental do País”.
A criação do jornal on-line é uma intenção de William Tonet que nunca foi “segredo de Estado” embora, mais uma vez, haja especulação. Não é no Brasil… é em Portugal e em Angola mesmo: o Folha 8 on-line! Quanto ao ser portador de tal doença, o panfletário texto do referido jornal vem juntar-se ao rol de outros tantos no mesmo sentido, porém tem a particularidade de ser mais ameno em relação a outros boatos que apontavam ser Tonet seropositivo há 20 anos. Agente da CIA, agente do Savimbismo, rebelde da UNITA, filho de Holden Roberto e cérebro da FNLA, instigador do PRS, partido da Lunda –Norte (terra natal do seu pai), agente do imperialismo internacional, etc.
Todavia a verdade é que nunca conseguiram provar, mesmo quando várias vezes William Tonet foi operado em Angola, a última no ano passado, a seropositividade, nas análises solicitadas e com a rede espalhada nos serviços hospitalares não seria fácil o regime ter provas. Como as não tem, passa para este método baixo e torpe de denegrir. Mas mesmo que tivesse esse problema de saúde, a verdade é que isso não o habilita menos, quer moral, quer jornalisticamente a denunciar as barbáries do regime de Luanda. Perante a impossibilidade de desmentirem as informações que o F8 veicula, logo a calúnia é o último reduto dos algozes do Futungo.
A terminar, o semanário tido como Independente, vem ainda afirmar, de acordo com uma das suas fontes que, o jornalista “terá proposto ao general Kopelipa, Chefe da Casa Militar da Presidência da República e director do GRN, por intermédio de um emissário, para a lavagem da sua imagem, valores extremamente exorbitantes na ordem dos 100.000 dólares anuais, facto que esta figura militar rejeitou categoricamente, ponderando inclusive a denúncia pública do facto”. Facto é que testemunhos quer do general, quer do suposto intermediário ou qualquer processo pelos factos afirmados, deles nunca se ouviu falar nem nunca por ninguém foram vistos. Além de que, convenhamos…, a imagem do general Kopelipa precisa de muito mais do que 8.300.00 dólares/mês para ser limpa. E se isso fosse verdade, por alma de quem o general, que vem sendo denunciado pelo F8, pela forma como desbarata o erário público e extrapola as sua competências, não aproveitaria a oportunidade de denunciar o homem que lhe quer extorquir dinheiro? Mas esta menção deixa uma certeza, está o general Kopelipa e os seus cães de caça por detrás da carta anónima enviada a William Tonet, nas últimas semanas.
Se na política não há coincidência, como acreditar que numa semana sai a carta e na outra ressurge das cinzas um jornal da Segurança de Estado, todo impresso a cores, para atacar William, Samakuva da UNITA, Miala e apresentar Kopelipa e Kwata Kanawa, secretário de Informação do MPLA, como os bons da fita? Para esse semanário, detido pelo desconhecido comercial Damer Group Luanda, parido das entranhas da Segurança de Estado, com o estranho registo MCS – 2222-A-2000, cujos jornalistas são tão desconhecidos quanto a sua direcção, William Tonet é um “frustrado e um difamador que, usando da prerrogativa que o jornalismo confere, transformou-se num autêntico mercenário a serviço de forças ocultas”.
Segundo o semanário, “este comportamento evidenciado, visa somente criar situações adversas ao Estado e pôr em causa o processo de reconciliação entre os angolanos” A verdade é que o Estado angolano não precisa da ajuda do William Tonet, nem de ninguém, para estar em situações adversas. A actuação do Governo e da Presidência da República, por si só, é suficientemente adversa para o Estado. O que o Folha 8 faz é constatar.
O objectivo é que o Estado se torne cada vez menos o seu pior inimigo, tendo em conta a corrupção, incúria e incompetência que proliferam nas suas instituições, aliadas a uma incompreensível falta de abertura democrática do regime.
(*)Este artigo foi publicado no Alto Hama (http://altohama.blogspot.com) a quem o NL agradece a autorização para a sua publicação integral. O título e o pós-título são da responsabilidade da Redacção do NL.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Alguns destaques da edição151 de 8/Fev/2008

Hospital Central de Maputo recebeu 84 feridos por armas de fogo
O Hospital Central de Maputo recebeu, na terça-feira e quarta-feira, 191 feridos, 84 dos quais atingidos por armas de fogo, revelou o primeiro enfermeiro-chefe dos Serviços de Urgência e porta-voz da unidade. “A maior parte das vítimas atingidas por armas de fogo apresenta uma parte dos seus membros atravessada por balas”, adiantou Filipe Olito Coimbra.

Negociações sobre aumento nos transportes vão demorar
As negociações entre o Governo e os transportadores sobre o aumento das tarifas dos transportes semipúblicos de Maputo “vão chegar a bom porto”, mas demorarão ainda “mais alguns dias”, disse recentemente o ministro dos Transportes de Moçambique. “É definitivo: vamos chegar a bom porto”, disse António Munguambe, no final do segundo dia de conversações com os representantes dos transportadores, que se seguem aos protestos nas ruas de Maputo, iniciados terça-feira, e que já provocaram pelo menos dois mortos e dezenas de feridos.

Por uma juventude mais actuante e unida contra a corrupção e o nepotismo (por Nvunda Tonet)
DESEJO, ardentemente, que a vinda de Cristo redentor fortaleça os laços de amizade, irmandade e de união no seio das famílias moçambicanas e conduza a sua vida à paz do Senhor. Em 2008, alegria, amor e companheirismo devem estar presentes no nosso dia-a-dia. Antes de mais, gostaria de saudar o leitor deste espaço pela passagem de mais um ano. É natural que os cidadãos se sintam reconfortados ou frustrados com os resultados alcançados ao longo do ano transacto. Mas, o importante é estarmos conscientes de que devemos ultrapassar cada etapa da vida com esperança de um futuro melhor.

Global Steel investe 80ME na exploração de carvão
A Global Steel Holdings anunciou recentemente que vai investir 115 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de euros) em projectos de exploração de carvão em Moçambique, que deverão arrancar dentro de quatro anos. A Global Steel, que controla a siderúrgica indiana Ispat Industries, junta-se assim às multinacionais Arcelor Mittal e Tata Steel, que no final do ano passado também anunciaram investimentos na mineração de carvão em Moçambique.

Crónicas de Luanda: A casa do sol do poente (por Gil Gonçalves)
“O Inglês e o Indiano associam-se como o azeite e a água. (Provérbio indiano)”
Enchi-me descontentamento e esperança depois dos inúmeros artifícios que usei para conseguir dinheiro e comprar chapas, cimento, e tijolos da rua. Antes com alvíssaras da corrupção consegui legalizar um terreno. Construí o meu casebre e abanquei. Quinze dias depois uma delegação composta de
fiscais, policias e guarda presidencial marcam-me a casota como no tempo do Moisés e do Faraó.

Banco Mundial concede USD 24 milhões para Mali
O Conselho de Administração do Banco Mundial (BM) aprovou terça-feira um financiamento da Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA) dum montante de 24 milhões de dólares americanos a título do segundo Crédito de Apoio à Estratégia de Redução da Pobreza (CASRP II) do Mali, soube a PANA de fonte segura.

TIMOR-LESTE: «Reinado não é ameaça à estabilidade», diz Xanana Gusmão
O major fugitivo Alfredo Reinado “não é uma ameaça real à estabilidade” de Timor-Leste, declarou à agência Lusa em Díli o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão. “Da parte do Estado, Alfredo Reinado não é uma ameaça real à estabilidade”, afirmou Xanana Gusmão numa entrevista de balanço dos primeiros seis meses do IV Governo Constitucional, que se completam hoje. “Da parte da população, (Reinado) é uma ameaça, já que ele não actuou sozinho e os jovens saíram para a rua em Díli quando viram o ataque a Same”, por tropas australianas, a 03 de Março de 2007, referiu.

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Alguns destaques da edição 150, de 7/Fev/2008

E, finalmente, o Povo saiu à rua... (por Orlando Castro)
- PRM desmobiliza manifestantes à força de bastonadas e de tiros, enquanto FRELIMO apela à calma
MOÇAMBIQUE viveu terça-feira última um violento protesto contra o aumento do custo dos “chapas”. Essenciais (por manifesta incapacidade de o Governo fornecer esse serviço) para o transporte dos trabalhadores que ganham pouco (fora os muitos que só ganham desespero) são também um barómetro da sociedade.

Crónica de Luanda: O livro do pragador (I) (por Gil Gonçalves)
No marxismolenismo tínhamos muito dinheiro, não havia nada para comprar. No capitalismo selvagem há de tudo, mas não temos dinheiro para gastar. Importar é necessário, fabricar não é necessário. A maldade de todas as fomes terrestres. Maldade de maldades! Diz o pragador, maldade e maldades! É tudo maldade. Que vantagem tem o esfomeado, depois do trabalho que fez e não recebe o seu salário? Uma geração de esfomeados perece, e outra, e mais outra, e ainda outra geração perecerá à fome; mas as terras dos ricos enriquecem-nos cada vez mais.

Protestos em Maputo: Retrato de uma cidade em estado de sitio (Pedro Figueiredo/Lusa)
A capital moçambicana está ainda transformada numa cidade em estado de sítio, de onde só se entra ou sai a pé, com barricadas de fogo em algumas das artérias da cidade e o acesso ao aeroporto a fazer-se apenas com escolta militar.
A avenida Acordos de Lusaka, a principal artéria que conduz ao aeroporto, está transformada num cenário de batalha campal entre polícias e manifestantes, que conseguiram cortar este acesso da cidade com um carro e vários contentores de lixo a arder.

Verba da renúncia quaresmal dos Açores vai apoiar vítimas das cheias
As verbas da renúncia quaresmal da Diocese açoriana destinam-se, este ano, a Moçambique, para apoio às vítimas das cheias que recentemente atingiram o país, anunciou ontem o bispo de Angra. Numa nota pastoral, D.António de Sousa Braga explica que o montante da renúncia quaresmal (donativos) vai servir para apoiar o Seminário Teológico Interdiocesano de S. Pio X, de Maputo, e as famílias atingidas pelas recentes inundações.

ZIMBABUÉ: Makoni será adversário de Mugabe nas próximas eleições
O ex-ministro da Economia do Zimbabué, Simba Makoni, líder do partido governante, anunciou ontem a sua intenção de concorrer à Presidência do país nas eleições do dia 29 de Março, nas quais o favorito é o presidente Robert Mugabe, no poder desde 1980. “Compartilho a agonia e a angústia de todos os cidadãos acerca das extremas privações que suportam há anos”, afirmou Makoni, membro do comité central da governante União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (Zanu-PF), dirigida por Mugabe, de 83 anos.

Pretória critica Nairobi por rejeitar mediador sul-africano
O executivo sul-africano criticou hoje duramente o governo do Quénia por este ter rejeitado o político e empresário Cyril Ramaphosa como mediador na crise que o país atravessa sob o pretexto de Ramaphosa «não ser um mediador honesto». Aziz Pahad, o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, disse hoje durante um encontro com a comunicação social que o seu governo «rejeita as razões dadas pelo governo do Quénia com o desprezo que elas merecem».

ANGOLA: Tchizé dos Santos lança forte apelo à tolerância na sociedade
A jornalista e empresária angolana Tchizé dos Santos, publicou um texto no Semanário Angolense onde faz um veemente apelo à tolerância dos angolanos. Neste texto, a filha do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, entre outras nacionalidades, lembra os seus compatriotas que “os portugueses não têm culpa” que em Angola se goste tanto do “seu” “bacalhao com natas”.

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Alguns destaques da edição 149 de 6/Fev/2008

Barriga vazia faz explodir paciência dos populares
- Até ao fecho desta edição, informações não confirmadas davam conta de mais de dois mortos e uma dezena de feridos

No bairro de Magoanine, onde começaram ontem os protestos contra o aumento dos transportes em Maputo, a polícia já dispersou os manifestantes, mas as barricadas continuam erguidas e as ruas mantêm-se desertas. Elementos das Forças de Intervenção Rápida, um corpo especialmente temido da polícia, patrulham a praça principal com as suas armas automáticas, tendo levado à fuga dos vários grupos de manifestantes.

RENAMO responsabiliza Governo pelos incidentes
A RENAMO, maior partido da oposição moçambicana, responsabilizou o governo pelos incidentes de rua registados ontem em Maputo, mas apelou aos manifestantes e ao Governo para «não exacerbarem os ânimos» e arranjarem uma solução para a crise.

«Situação tende para normalização progressiva»
O secretário de Estado das Comunidades disse hoje à Lusa que acompanha a evolução dos protestos contra o aumento dos transportes em Maputo, que já provocaram pelo menos seis feridos, e acredita numa «normalização progressiva da situação».

Vem aí a TVM2
A televisão de serviço público de Moçambique vai lançar um segundo canal de televisão, em Junho do presente ano, afirmou o presidente da TVMoçambique, Simão Anguilaze. Face à concorrência no mercado televisivo moçambicano, o presidente da TVMoçambique aposta na formação e no posicionamento do serviço público do País com a criação de “um novo canal comercial a estrear em Junho de 2008, a TVM2”.

África do Sul expulsa 500 ilegais moçambicanos
O Ministério do Interior da África do Sul deportou recentemente 500 moçambicanos que viviam ilegalmente naquele país e outros 45 que cumpriam penas por crimes diversos, anunciou a Rádio Moçambique. Aos emigrantes ilegais ora expulsos daquele país, juntam-se outros dois mil moçambicanos que o Governo sul-africano repatriou em todo o mês de Janeiro, noticiou ainda a rádio pública moçambicana.

Sete pessoas continuam detidas no caso de «rapto» de 40 crianças
Sete pessoas, incluindo três líderes islâmicos, permanecem detidos em conexão com o caso do “rapto consentido” de 40 crianças no centro de Moçambique, disse fonte da polícia moçambicana. A descoberta na segundafeira pela polícia de um camião com 40 crianças na estrada entre as províncias de Sofala e de Manica, centro do país, levantou inicialmente suspeitas de tráfico de seres humanos, mas a polícia afastou essa possibilidade e investiga agora a teoria de “rapto consentido”.

Dos Santos pode e deve ser criticado, mas... (por Orlando Castro)
O respeito é muito bonito e, creio, todos gostamos. No que ao presidente do MPLA e e Angola respeita, é público que o considero um ditador e o principal responsável, entre muitas outras coisas, pela fome que atinge milhões de angolanos. Isso não me dá direito de ofender José Eduardo dos Santos, esquecendo a educação e entrando pelo insulto soez, torpe e ordinário.

Luanda merecia muito melhor (por Jorge Eurico)
Job Capapinha, o tal que aqui há uns anos mandou (será que a memória dele tem memória deste epísodio?) “capangas” desalojar-me às três da madrugada do palácio do Governo do Cunene pelo simples facto de ter dito ao afilhado de casamento José Eduardo dos Santos, Pedro Mutinde, que não era do MPLA (mas também não sou da UNITA), foi recentemente exonerado, a seu pedido, pelo presidente da República do cargo de governador de Luanda.

ZIMBABUÉ: Fracassam negociações entre duas facções do MDC
As duas facções do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), oposição ao regime de Robert Mugabe, não chegaram a acordo para a criação de uma frente comum a apresentar às eleições gerais de 29 de Março. Os dirigentes das duas facções do MDC afirmaram que as conversações, que começaram sábado último e terminaram um dia depois, fracassaram devido à distribuição de assentos parlamentares e locais, bem como à escolha do candidato a apresentar às presidenciais, insucesso que deverá fortalecer a posição de Mugabe no escrutínio.

CABO VERDE: Cientistas alemães estudam influência do pó do Sahara na América
O deserto do Sahara despeja anualmente no Atlântico 300 milhões de toneladas de poeira, das quais 15 milhões chegam às Caraíbas, admitindo-se que esse pó influencie a formação dos ciclones que assolam a América, segundo cientistas alemães.

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Protestos em Moçambique. Será só isso?

Moçambique viveu hoje um violento protesto contra o aumento do custo dos “chapas”. Essenciais (por manifesta incapacidade de o Governo fornecer esse serviço) para o transporte dos trabalhadores que ganham pouco (fora os muitos que só ganham desespero) são também um barómetro da sociedade.
Por Orlando Castro
A questão do aumento dos “chapas” – na cidade passou de 5 meticais para 7,5 e na periferia de 7,5 para 10 (35 meticais equivalem a um euro) – é crucial para a maioria dos moçambicanos que, por regra, gasta cerca de 40% do ordenado mínimo (1 500 meticais) nesse tipo de transporte.Os protestos contra o aumento dos transportes são habituais, seguindo a lógica descendente.
O Governo aumenta os combustíveis, os transportadores aumentam o preço dos bilhetes, os utentes (que já se consideram felizes quando têm algum trabalho) protestam nas ruas e a Polícia desmobiliza-os à força de bastonadas e de tiros. Sempre que há aumentos há protestos, embora não tão violentos como os de hoje.
Hoje o protesto registou uma inovação. Foi convocado por sms e incluía fortes críticas ao Governo da FRELIMO: “O povo está a sofrer, os filhos de ministros, deputados e outros dignitários não andam de chapa e os chapas estão caros. Vamos fazer greve e exigir justiça. Lutemos contra a pobreza”.Embora a situação, segundo fontes da Imprensa moçambicana, não passe de um protesto popular contra o alto custo de vida, a tensão registada fez temer algo mais grave, tantos são os exemplos da história recente de África.
Assim, pelo sim e pelo não, os bancos, escolas, repartições públicas e outros organismos do Estado fecharam as portas, enquanto organizações internacionais, caso da ONU, aconselharam os seus funcionários a não saírem à rua.O Governo decidiu entretanto negociar com os representantes dos operadores dos “chapas” uma forma de minimizar as novas tarifas, garantindo que os utentes não serão prejudicados.
O Executivo de Maputo teme, aliás, que os protestos possam ser aproveitados pela Oposição para os potenciar, transformando-os numa contestação de carácter político.A RENAMO, embora responsabilizando o Governo pelos incidentes, apelou aos manifestantes para “não exacerbarem os ânimos” e arranjarem uma solução negociada para a crise.“O Estado não assegura transportes públicos eficazes para dar vazão aos utentes, daí que se abriu espaço para os privados colmatarem esta lacuna que o Governo deixou em branco, permitindo-lhes que usem e abusem do poder que têm sobre um povo pobre e sem capacidade reivindicativa”, afirma a RENAMO.
Recorde-se que, no passado dia 24, o Banco Mundial considerou existir um “claro risco” de abrandamento do ritmo de redução da pobreza em Moçambique, que atinge ainda mais de metade da população do país, tendo aprovado um apoio financeiro ao Orçamento de Estado para este ano na ordem dos 40,4 milhões de euros.


Fonte: Alto Hama

Protestos em Maputo: Retrato de uma cidade em estado de sítio

A capital moçambicana está ainda transformada numa cidade em estado de sítio, de onde só se entra ou sai a pé, com barricadas de fogo em algumas das artérias da cidade e o acesso ao aeroporto a fazer-se apenas com escolta militar.
Por Pedro Figueiredo da Agência Lusa
A avenida Acordos de Lusaka, a principal artéria que conduz ao aeroporto, está transformada num cenário de batalha campal entre polícias e manifestantes, que conseguiram cortar este acesso da cidade com um carro e vários contentores de lixo a arder.
No local, milhares de pessoas percorrem os passeios procurando regressar a casa, correndo para as ruas estreitas dos bairros vizinhos sempre que se ouvem disparos da polícia - a que os manifestantes respondem arremessando pedras.
Nesta avenida, que é uma das "linhas da frente" da confrontação entre as forças policiais e os manifestantes, é ainda possível ver carrinhas todo-o-terreno repletas de militares empunhando metralhadoras, que servem de escolta aos carros prioritários que seguem para o aeroporto.
Por todo o lado, nos pontos mais altos, centenas de populares observam de longe a confrontação, enquanto nos semáforos, atrás da barreira policial (muitos agentes estão à paisana) dezenas de carros esperam que uma acalmia da situação lhes permita sair da cidade - quem se aventura numa travessia solitária é sumariamente apedrejado pelos manifestantes, caso de um carro de reportagem da principal televisão privada em Moçambique, a STV.
A "linha da frente", montada na avenida que ostenta o nome dos acordos que conduziram à independência de Moçambique, repete-se um pouco por toda a cidade, mas agora apenas nas principais saídas. Mas no centro de Maputo estão ainda as marcas da violência que se espalhou um pouco por toda a cidade, como resposta ao aumento do preço dos transportes semi-colectivos de passageiros, o meio de transporte utilizado pela maioria dos habitantes da capital moçambicana e arredores.
Contentores de entulho virados, montes fumegantes de pneus ardidos, pedras espalhadas por todo o lado, seguranças empunhando armas automáticas em alerta, carros de organizações internacionais circulando com a respectiva bandeira desfraldada de fora da janela, carros a fazerem inversão de marcha e a circularem em quatro piscas sempre que pressentem que uma rua esteja bloqueada mais à frente: eis os sinais visíveis dos tumultos.
Ao contrário de todos os outros dias, hoje não existem "chapas" (as pequenas carrinhas de passageiros que asseguram o transporte na cidade) em Maputo, os carros a circular são muito poucos e é possível ver milhares de pessoas a percorrerem a pé a cidade, resignadas à perspectiva de não terem transporte para sair da cidade.
De resto, Maputo foi hoje uma cidade paralisada, já que a ausência de transportes impediu muitos milhares de trabalhadores residentes nos bairros periféricos de chegarem à cidade. Os bancos, hipermercados, escolas, lojas e outros estabelecimentos comerciais permaneceram encerrados ao longo de todo o dia, depois de manifestantes terem partido montras e vandalizado alguns deles.
A noite, que entretanto caiu em Maputo, trouxe uma relativa acalmia da situação, esperando-se que as negociações entretanto encetadas entre o Governo e os transportadores consiga trazer a paz às ruas da capital moçambicana.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Alguns destaques da edição 148 de 5/Fev/2008

Progressos económicos aceleram crescimento dos (des)empregados
- 16,4% dos trabalhadores de todo o mundo (487 milhões) não ganham mais de USD1 por dia

A ORGANIZAÇÃO Internacional do Trabalho (OIT) revelou recentemente que os desempregados no mundo aumentarão em 5 milhões este ano, atingindo 190 milhões, número que pode subir ainda mais se a crise imobiliária nos Estados Unidos ganhar força e o preço do petróleo se mantiver em alta.

Dhlakama:2008 será pior que 2007
O ano de 2008 será “pior que 2007” para Moçambique devido à entrada na zona de comércio livre da África Austral, em Janeiro, por decisão “unilateral” do Presidente, sem que o País esteja preparado, acusou o líder da RENAMO.

Pequim aprova entrada do ICBC no Standard Bank
A entidade reguladora bancária chinesa aprovou a compra de 20% do banco sul-africano Standard Bank, líder de mercado em Moçambique, por parte do Banco Comercial e Industrial da China (ICBC, na sigla inglesa), revelou recentemente o banco chinês.

B M concede empréstimo de 60 milhões de dólares ao País
O Banco Mundial aprovou recentemente um empréstimo de 60 milhões de dólares ao nosso País no âmbito do 4º Crédito de Apoio à Redução da Pobreza (PRSC 4, na sigla em inglês), informou a instituição.

Há crise no Chade? África no seu melhor! (por Eugénio Costa Almeida)
Se não é isso o que pensa os ocidentais lugares de lazer europeus e norte-americanos, para lá caminha. Há crise no Chade? Não há problemas! Não sei onde fica e como não conheço deve ser lá longe! Milícias agrupadas numa Frente Comum ou Coligação Tripartida, desde Dezembro, provenientes do vizinho Sudão entraram na capital N’Djamena e cercaram palácio presidencial; formam a coligação a União das Forças para a Democracia e Desenvolvimento (UFDD), de Mahamat Nouri, União das Forças da Mudança, de Timane Erdimi – sobrinho de Débi –, e UFDD-Fundamental – dissidência da UFDD –, de Abdelwahid Aboud. É crise num tal Chade! Não há problemas!

Portugal vai ajudar (porreiro, pá!) as vítimas das cheias do Zambeze (por Orlando Castro)
Ao tempo que se sabe que Moçambique atravessa uma situação complicada por causa das cheias. Ao tempo que diversas organizações humanitárias alertam para o drama. Ao tempo que outros países já enviarem ajuda. Agora, ao que parece (sim, ao que parece) Portugal acordou e vai ajudar alguns dos mais de 80 mil cidadãos deslocados.

A rebelião chadiana é como que uma manta de retalhose por isso tem dificuldade em triunfar (por Jorge Heitor)
As dificuldades enfrentadas nos últimos três dias pelos rebeldes chadianos, quando já pareciam ter tomado conta de quase toda a capital e estar às portas do palácio presidencial, poderão dever-se à sua falta de coesão, uma vez que não constituem um só movimento mas pelo menos três.

Angola, Brasil e Timor no top das violações
Angola, Brasil e Timor-Leste, três dos oito países de língua portuguesa, figuram, por razões várias, no relatório anual da organização Human Rights Watch, que dá conta de diferentes violações cometidas ao longo de 2007.

Estes e outros artigos podem ser lidos, na íntegra, em PDF, solicitando via e-mail ao lado