Moçambique viveu hoje um violento protesto contra o aumento do custo dos “chapas”. Essenciais (por manifesta incapacidade de o Governo fornecer esse serviço) para o transporte dos trabalhadores que ganham pouco (fora os muitos que só ganham desespero) são também um barómetro da sociedade.
Por Orlando Castro
A questão do aumento dos “chapas” – na cidade passou de 5 meticais para 7,5 e na periferia de 7,5 para 10 (35 meticais equivalem a um euro) – é crucial para a maioria dos moçambicanos que, por regra, gasta cerca de 40% do ordenado mínimo (1 500 meticais) nesse tipo de transporte.Os protestos contra o aumento dos transportes são habituais, seguindo a lógica descendente.
O Governo aumenta os combustíveis, os transportadores aumentam o preço dos bilhetes, os utentes (que já se consideram felizes quando têm algum trabalho) protestam nas ruas e a Polícia desmobiliza-os à força de bastonadas e de tiros. Sempre que há aumentos há protestos, embora não tão violentos como os de hoje.
Hoje o protesto registou uma inovação. Foi convocado por sms e incluía fortes críticas ao Governo da FRELIMO: “O povo está a sofrer, os filhos de ministros, deputados e outros dignitários não andam de chapa e os chapas estão caros. Vamos fazer greve e exigir justiça. Lutemos contra a pobreza”.Embora a situação, segundo fontes da Imprensa moçambicana, não passe de um protesto popular contra o alto custo de vida, a tensão registada fez temer algo mais grave, tantos são os exemplos da história recente de África.
Assim, pelo sim e pelo não, os bancos, escolas, repartições públicas e outros organismos do Estado fecharam as portas, enquanto organizações internacionais, caso da ONU, aconselharam os seus funcionários a não saírem à rua.O Governo decidiu entretanto negociar com os representantes dos operadores dos “chapas” uma forma de minimizar as novas tarifas, garantindo que os utentes não serão prejudicados.
O Executivo de Maputo teme, aliás, que os protestos possam ser aproveitados pela Oposição para os potenciar, transformando-os numa contestação de carácter político.A RENAMO, embora responsabilizando o Governo pelos incidentes, apelou aos manifestantes para “não exacerbarem os ânimos” e arranjarem uma solução negociada para a crise.“O Estado não assegura transportes públicos eficazes para dar vazão aos utentes, daí que se abriu espaço para os privados colmatarem esta lacuna que o Governo deixou em branco, permitindo-lhes que usem e abusem do poder que têm sobre um povo pobre e sem capacidade reivindicativa”, afirma a RENAMO.
Recorde-se que, no passado dia 24, o Banco Mundial considerou existir um “claro risco” de abrandamento do ritmo de redução da pobreza em Moçambique, que atinge ainda mais de metade da população do país, tendo aprovado um apoio financeiro ao Orçamento de Estado para este ano na ordem dos 40,4 milhões de euros.
Fonte: Alto Hama
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