terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Mau tempo provoca deslocados e destrói África Austral

As chuvas inusitadas que têm assolado Moçambique nos últimos dias estão também a afectar outros países vizinhos, sobretudo a Zâmbia e Zimbabué, onde provocam milhares de deslocados e destroem as fracas colheitas.
Apesar de as inundações serem frequentes na região da África Austral, com maior incidência na bacia do rio Zambeze, este ano a época das chuvas começou mais cedo, afectando fortemente Moçambique, Zâmbia e Zimbabué, mas também o Malawi e Madagáscar.
Segundo as previsões meteorológicas para os próximos cinco dias, a chuva vai continuar a cair com intensidade na maioria dos países da África Austral, à excepção da África do Sul, Lesoto e Namíbia, onde o céu estará, paradoxalmente, limpo.
As imagens por satélite disponibilizadas pela BBC e pela CNN mostram uma "nuvem negra" sobre toda a região centro da África Austral, que se prolonga desde a costa atlântica africana até Madagáscar.
Segundo a UNICEF, em Moçambique, que está em alerta máximo de cheias desde a semana passada, as inundações no centro do país já afectaram cerca de 56 mil pessoas, das quais 13 mil estão desalojadas, estando já em curso acções de ajuda para fazer face à situação.
Normalmente, as chuvas torrenciais só assolam Moçambique e os países vizinhos a partir de meados de Fevereiro, mas a água que tem caído desde o final do ano passado já fez transbordar os rios Zambeze, Púnguè, Buzi e Save, no centro do país.
Segundo a Administração Regional de Águas (ARA-Zambeze), a região centro de Moçambique deverá atingir, ao longo desta semana, a fase mais crítica das inundações, situação que irá agravar também mais países da África Austral.
No Zimbabué, em particular no Norte, as fortes chuvas já provocaram mais de 3.000 desalojados e afectaram outros 5.000 habitantes, residentes nas zonas ao longo da fronteira com Moçambique, no sudeste do país.
Na Zâmbia, o cenário é menos dramático, embora as cheias provocadas pelas chuvas torrenciais tenham afectado entre 500 a 800 pessoas em diversas regiões do sul, levando as autoridades de Lusaca a decretar o alerta vermelho em 34 dos 72 distritos do país. "A nossa preocupação está centrada na resposta de emergência para fazer face às chuvas torrenciais, que este ano chegaram mais cedo", afirmou Kelly David, director do Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas para a África Austral.
Em 2007, estima-se que 285.000 pessoas foram afectadas pelas cheias ao longo do vale do rio Zambeze. Nesse ano, à medida que os níveis crescentes das águas causados pelas chuvas torrenciais inundava as áreas baixas, cerca de 100.000 pessoas encontraram abrigo nos centros temporários de acomodação.
Em 2000, as cheias no sul de Moçambique provocaram 640 mortos e afectaram dois milhões de pessoas, das quais 500 mil ficaram desalojadas.

2 comentários:

Pedagogos do Futuro disse...

Caríssimo.
No Brasil, poucas são as regiões que se assolam com este problema naturalmente causal. Na maioria das vezes em que acontece uma inundação de uma cidade, ocorre em função da degradação ambiental: do lixo jogado intempestivamente nos rios e córregos, do desmatamento e das construções ilegais que estão muito próximas dos rios, lagoas e (pasmem!) do mar.
Ora, pode não ser este o caso de Moçambique e dos países citados, mas exemplos como os do Brasil não devem ser repetidos. O caos tende a ser pior. Há que ser discutido entre o governo e a sociedade um política de médio e longo prazos que passe essencialmente pelo estudo do problema (e estudo de exemplos como os do Brasil e de outras partes onde acontecem alagamentos por inundação) para um apontamento de possíveis medidas que visem minimizar os problemas causados pelas chuvas.
Veja: o mundo está a discutir o "desenvolvimento sustentável" e uma das maiores preocupações é com a possibilidade de uma brutal diminuição da oferta de água potável. Logo, uma política de aproveitamento das águas das chuvas precisa ser visto como emblemático na minimização destes problemas.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o principal manancial de água que abastece toda a região metropolitana está muitissimo poluido (eu trato disso no meu blog sob o título de O Chico Zona Sul e o Velho Guandu) e, segundo o presidente da Agência Nacional de Águas, brevemente ficara intratável.
Ora, se há uma oferta natural, como é o caso das chuvas, o que precisa ser feito é um aproveitamente desta oferta. Como não soubemos tratar disto ainda, o que deveríamos aproveitar deixamos ir embora a sobrecarregar os rios e a inundar cidades.

Anónimo disse...

Carissímo Jorge Eurico,

Um dos problemas que assola as actuais sociedades ditas modernas é a falta de gestão da água pluvial.Como português assisto no meu país a problemas relacionados com a inexistência de politicas estatais de gestão, apesar dos problemas Moçambicanos e Brasileiros serem de outra ordem.
Estão contudo ligados á gestão porque muitas das vezes são fechados os naturais escoamentos pluviais,construindo-se em leitos de cheia, impermeabilizando ou entubando linhas de água.
Nas cidades os edificios e as áreas impermeabilizadas não efectuam retenção, infiltração ou aproveitamento da água da chuva. Existem contudo já alguns exemplos de construção sustentável em que a água da chuva já é aproveitada.
Se em Portugal vivemos numa sociedade de desperdicio, em Moçambique na reabilitação do vosso parque edificado e nas novas construções porque não introduzir os sistemas de aproveitamento de água da chuva?
Continuar a desperdiçar este recurso no século XXI quando a água é indespensável á vida é deixar nas mãos dos outros a decisão de mudar ou não.
Como curiosidade, os fortes e fortins portugueses em Moçambique tinham cisternas para armazenamento de água pluvial, assim como alguns monumentos nacionais. E pensar que na era da globalização, das energias renováveis, da construção sustentável, da governança, da interdependência económica, do multilateralismo, a água da chuva é fonte de problemas e de desaproveitamento quando as Nações Unidas anunciam nos Milenium Goals até 2015 levar a água e condições sanitárias a todas as populações do mundo.
Em alguns países africanos a Rain fondation está a desenvolver projectos de rainwater harvesting, levando as escolas a colocar sistemas para aproveitar a água da chuva.
Muito trabalho a fazer numa área importante e de enorme potencial.