O Banco Mundial (BM) considerou ontem existir um «claro risco» de abrandamento do ritmo de redução da pobreza em Moçambique, que atinge ainda mais de metade da população do país, apesar das melhorias nos últimos anos.
«Em termos gerais, o Governo prevê a continuação do crescimento e da redução da pobreza, mas há um claro risco de que a taxa de redução da pobreza abrande», refere o relatório do BM, ontem apresentado em Maputo e que revela um país como «um exemplo para outras nações em transição» no que respeita à redução da pobreza.
O documento - intitulado « Conseguindo o Improvável, sustentar a inclusão na economia em crescimento de Moçambique» - começa por assinalar a redução da taxa de pobreza alcançada no pós guerra civil, passando de 69 por cento em 1997 para 54 por cento em 2003 (o governo prevê que em 2009 se situe abaixo de metade da população).
«Estes êxitos partem de uma base caracterizada por uma economia devastada pela guerra civil», observa a organização no seu relatório, apontando que Moçambique »continua a ser um dos países mais pobres do mundo«.
«Historicamente, verifica-se que os episódios de altas taxas de crescimento de países em recuperação de guerras esmorecem e acabam ao fim de sete anos», nota a organização.
Para o BM, num momento em que o país apresenta, desde 2003, taxas de crescimento superiores a sete por cento, «a questão fulcral é saber se o crescimento de Moçambique irá manter-se e se se traduzirá numa continuada redução da pobreza, beneficiando aqueles que ainda se mantêm vulneráveis, marginalizados e empobrecidos segundo todos os padrões internacionais».
«Os dados recentes relativos a Moçambique não são conclusivos«, reconhece o BM, apontando um crescimento das desigualdades nas zonas rurais e urbanas.
A organização aplaude, por outro lado, a »grande conquista« do Governo moçambicano em matéria de educação, nomeadamente a multiplicação de escolas do ensino básico e a redução do fosso entre rapazes e raparigas, e aconselha outros sectores a seguirem-lhe o exemplo. E destaca a aposta na agricultura, sustentando que o aumento da produção agrícola reduziu em »três quartos a taxa de incidência da pobreza«, observa-se no documento.
Louise Fox, responsável pela elaboração do relatório, sugeriu uma aposta na atracção de investimento directo estrangeiro em indústrias de mão-de-obra intensiva, pois »confinar o investimento directo estrangeiro a mega-projectos industriais intensivos no uso de capital e energia não irá criar os postos de trabalho necessários«.
Paralelamente, prosseguiu, é necessário potenciar a agricultura comercial através do apoio a empresas rurais, da criação de infra-estruturas de comercialização, do desenvolvimento de serviços rurais e da melhoria das vias de acesso.
«Redireccionar e incrementar» o investimento no capital humano, nomeadamente expandindo a rede escolar e reduzindo os custos da educação, além de investir em novos postos e centros de saúde devem também ser aposta de Moçambique, a par de um reforço da boa governação e da prestação de contas, no entender da responsável do BM.
Presente na apresentação do relatório, o vice-ministro da Planificação e Desenvolvimento de Moçambique, Victor Bernardo, considerou o relatório «muito bem-vindo e de grande utilidade» para ajudar o Executivo a «fazer as correcções que forem necessárias». «Temos a convicção de que estamos a caminhar na direcção correcta«, reforçou o governante.
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